domingo, 24 de janeiro de 2010

Subsídios para uma História da Música no Maranhão - Introdução (I)

Prof. Dr. João Berchmans de Carvalho Sobrinho
Este texto é uma tentativa de realizar a organização dos dados colhidos durante nossa pesquisa em São Luís do Maranhão, no Rio de Janeiro, em Lisboa e em Évora, sobre a obra religiosa do compositor ludovicense Leocádio dos Reis Rayol (São Luís, 1949 – Rio de Janeiro, 1909), temática de minha tese de doutoramento. Foi a partir desta pesquisa em acervos histórico-musicológicos que fui catalogando diversas informações sobre a vida musical e o estabelecimento de uma prática musical na capital maranhense.
Apesar de deparar-me com uma vasta documentação em relatos, notas e manuscritos musicais que apontam para uma prática musical importante desde os primórdios do estabelecimento da capital maranhense, se faz necessário destacar algumas dificuldades demarcadas pela grande dispersão e condições de consulta da documentação referente ao Maranhão, particularmente no que diz respeito aos séculos XVII, XVIII e primeira metade do XIX.
Entretanto, procuro apresentar aqui elementos que possam, em uma abordagem preliminar, caminhar na construção de uma história da música maranhense, mesmo reconhecendo que a inexistência de material musical transcrito e pesquisa musicológica dificultariam um tratamento mais analítico desta produção. Esta iniciativa, ainda em fase inicial de desenvolvimento, está sendo desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa em Música da UFPI (NUPEMUS), com apoio do Edital Universal MICT/CNPq, com uma das linhas de pesquisa focada tanto nos acervos maranhenses, como nos manuscritos portugueses que consultei e reproduzi por meio digital.
Portanto, o objetivo inicial deste trabalho é despertar o interesse de outros pesquisadores para um fato que considero relevante: a ampliação dos horizontes da musicologia nacional com a inserção de outras áreas de estudo, além das já consagradas por esta área de pesquisa musical.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Canção do Auto-Exílio

Aos amigos Fonseca Neto e Climério Ferreira

Vou embora pra Amarante
Vou lá pra beira do rio
Embalar-me nos remansos
Tremer ns noites de frio
Aconchegar-me na rede
Nos oitões avarandados
Mirar a silhueta da serra
Que descortina d’outro lado

Vou embora pra Amarante
Lá eu serei mais feliz
Ouvirei as cantadeiras
De incelenças e pastoris
Azulejar-me nos beirais
Dos recônditos lusitanos
Nos mirantes outonais
Das chuvas de quando em quando

Vou embora pra Amarante
Das palmeiras e buritis
Deitar cama na varanda
E amar como aprendiz
Sentir o brilho das águas
No verde-azul da chapada
Tanger o pinho e a alma
Nas noites enluaradas

Vou embora pra Amarante
Pros terreiros poeirentos
Pros brejos alagadiços
Pras chuvas, pros pés-de-vento
Ajoelhar-me nas rezas
Dos benditos gonçalinos
Das procissões tortuosas
Da triste música dos sinos

Vou embora pra Amarante
Pro Descanso e Veredinha
Amolengar-me no pagode
Deleitar-me nas modinhas
Acordar com a alvorada
Prelúdios, valsas, dobrados
Com a Lira Amarantina
Trazendo de volta o passado

Vou embora pra Amarante
Pras festanças domingueiras
Pro entardecer sonolento
Vicejar nos dias de feira
Comigo a Graça de Deus
De brancura enevoada
Ao arrepio da bruma
Que desce lá da chapada

Vou embora pra Amarante
Festejar no candomblé
Dos tambores surriados
Dos negros do Canindé
Langorosos, suarentos
Nos roçados do forró
Puxado a mel na garganta
Pelo Augusto do Mimbó

Vou embora pra Amarante
Cobrir-me com o manto da serra
Na sonolência das tardes
De serena e agrária espera
Ao acalanto das águas
Dos mormaços pressageiros
Aqui e acolá o rugido
Dos tristes trovões de janeiro

Vou embora pra Amarante
Pros telhados sinuosos
Para as noites nevoentas
Dos janeiros invernosos
Exilar-me em mim mesmo
A minha vida em degredo
Memória do que sobrou de mim
Das ânsias, dos desesperos

Vou embora pra Amarante
Entardecer nos umbrais
Se minha terra é um céu
Meu poeta, não finjais!
Languidamente deitada
À corrente deslizando
“É um céu sob outro céu
De águas claras soluçando

Arte e Ciência e a Transformação dos Paradigmas

1. O Problema da Pesquisa em Artes


Uma dificuldade inerente a este campo diz respeito a escolha de um método para a pesquisa em artes, o contrário da ciência que tem despertado a atenção e preocupado os pesquisadores desde tempos remotos e tem consolidado ao longo deste caminhar, uma gama de possibilidades de pesquisa.

A partir da constatação da “carência de estudos sobre as questões teóricas da “pesquisa em artes”, seria necessário a busca e confrontação com os métodos e referenciais teóricos elaborados pelos filósofos da ciência. (ZAMBONI,1993).
Para realizar essa aproximação teórica, nos referiremos ao pensador Thomas Kuhn e as idéias que desenvolveu para a ciência a partir do livro A estrutura das revoluções científicas.

Para Kuhn, a ciência vive em torno da sucessão de paradigmas, conjunto de teorias que coexistem entre si e não se contradizem. Esse conjunto teórico e construído na heterogeneidade dos eventos, dos quadros, sucessivos e fragmentados, e não em uma harmonia linear e cronológica dos conhecimentos. Vão ser esses conjuntos de teorias e conceitos que formarão os paradigmas.

Em outro ponto, Kuhn refere-se a situações em que pode ocorrer mudanças de paradigmas, tipificando dois momentos para a ciência: a “ciência normal” e a “revolução científica”. Para este autor, esses dois períodos diferenciam-se mais por questões de magnitude, e “não de diferenciação com relação à criatividade nos processos de produção científica”. Nas “revoluções cientificas” é necessário um impulso criativo maior para o rompimento dos paradigmas. Por outro lado, existem épocas de maior estabilidade, de coerência teórica, a que Kuhn denomina de “ciência normal”, e são esses cientistas os responsáveis pela solução do “quebra-cabeças”. Esse período se caracteriza por uma estabilidade científica e poucas novidades surgem.

O que se costuma referir como a “crise dos paradigmas” parece-me fruto da própria lógica da ciência onde os paradigmas não se sustentam eternamente, e a crise se dá exatamente no tempo em que há um esgotamento e uma necessidade de novos paradigmas.
Segundo Zamboni “Uma pesquisa que aponte um caminho que possa contradizer um paradigma terá, num primeiro momento fortes reações da comunidade científica, que está acostumada a trabalhar e a raciocinar dentro desses moldes”.(p.30).

Isto é perfeitamente visível nas novas teorias explicativas sobre a origem do homem americano formuladas por Niéde Guidon e sua equipe, a partir das descobertas dos sítios arqueológicos na Serra da Capivara, nos municípios de São Raimundo Nonato, Cel. José Dias e João Costa, no semiárido piauiense.

Portanto,“quando surge um novo paradigma, normalmente instala-se um período de extensa atividade, onde começam a aflorar novas descobertas de relevância, a criatividade se faz necessária de forma intensa, pois novas teorias vão se formando...” (Zamboni, p.29-30,) ao que Kuhn destaca imperativamente que rejeitar um paradigma sem apontar o novo caminho é rejeitar a própria ciência.

2. As rupturas científicas e as rupturas no campo artístico.

Para Kuhn, os ciclos paradigmáticos – “o surgimento” e “rupturas” – na ciência guardam semelhanças com o campo das artes. As formas artísticas são desenvolvidas através de um conjunto de idéias que “delimitam a forma de atuação e produção artística” , e são condicionadas aos paradigmas vigentes. Zamboni aproxima o conceito de “arte normal” ao conceito “ciência normal” de Kuhn, para a “produção artística despida da preocupação de promover grandes rupturas”.(p.32).

Na medida do esgotamento normativo de uma escola, movimento ou conjunto de idéias, atinge-se a crise tal qual nos paradigmas científicos. A diferença, segundo o Zamboni, reside no fato de que na ciência os fatos novos “são pertinentes a uma ou várias teorias compatíveis” e procuram “explicar racionalmente” o novo paradigma. Em arte, as rupturas muitas vezes são resultado de uma experiência “interior e individual para a aceitação”.(p.33).

Outros aspectos ainda são abordados Zamboni com base na teoria de Kuhn, dos quais cito alguns:
• Um paradigma, a ser suplantado por outro, não perde a legitimidade da validade científica. Ele apenas cai em desuso.
• Os cientistas que não se enquadram ao novo paradigma ficam à margem da comunidade científica.
• Na teoria científica de Kuhn, a acumulação do conhecimento faz mais sentido dentro de um mesmo paradigma. Quando ocorre uma mudança de paradigma, é rompida a cadeia que o orientava e conduzia. Portanto, a acumulação de conhecimentos (progresso da ciência) se dá dentro dos paradigmas das respectivas correntes de pensamento.
• A acumulação de conhecimento no campo das artes pode ser exemplificada através de técnicas em evolução onde o artista se baseia em “descobertas” de outros para progredir.

Acredito que essa reflexão possa ser bastante útil para entendermos as transformações e/ou rupturas nos princípios estéticos e nas linguagens musicais através da história da música.

3. Referências

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003

ZAMBONI, Sílvio. “O Paradigma em arte e ciência”. In: Pesquisa em Artes Plásticas. Analice Dutra Pillar et alli. Porto Alegre, Ed. Universidade/UFRGS/ANPAP, 1993, p.29-38.

Prof. Dr. João Berchmans de Carvalho Sobrinho

Colegas da UFPI

Colegas da UFPI
Dizia o poeta que devemos saber viver o sabor do nosso tempo... Ao debruçar-me na construção deste texto, quedei-me silencioso por um bom tempo e deixei que as lembranças e recordações assomassem à memória, trazendo lances de minha trajetória acadêmica e política ao longo de três décadas, que reconheço entrelaçada e em boa parte tributária da construção acadêmico-política do coletivo chamado universidade, particularmente, a nossa Universidade Federal do Piauí, que estamos ajudando a construir.
Dessa maneira, o entendimento do papel da universidade que almejo passa pelo sentido gramsciano: um espaço aglutinador das diferenças e dos diferentes, arena de disputas filosófico-políticas, construtora ou desmistificadora de propostas de naturezas diversas que circulam no território educacional. Universidade como espaço de ressonância das questões polêmicas do nosso tempo, atinentes ao campo das idéias e às práticas da sociedade brasileira.
Esta nossa construção política foi marcada pelo surgimento da ADUFPI, no início dos anos 80, com o objetivo de constituir-se em um locus de defesa intransigente da Universidade Pública, dentre outras bandeiras de luta do movimento docente. Caracterizou-se, portanto, como uma instituição que daria fôlego aos embates das idéias que se preconizavam, tornando-se o espaço político de nossas conquistas, na verdade, um fórum de debates em torno da construção da nossa utopia social, política e cultural. Portanto, o papel que a ADUFPI, enquanto Seção Sindical do ANDES, filiado à Central Única dos Trabalhadores, desempenhou ao longo de sua trajetória, foi decisivo, inclusive para, juntamente com diversos outros segmentos da sociedade, alçar ao poder um projeto político de bases populares: o Governo Lula.
Neste momento aproxima-se mais uma disputa política em torno da nossa ADUFPI, e aqui neste documento quero manifestar meu apoio ao colega Mario Ângelo e sua equipe. Primeiro pela própria experiência de Mário no movimento sindical e político; segundo, por acreditar que este grupo pode conduzir a ADUFPI ao exercício de seu real papel: a defesa intransigente da Universidade Pública e de qualidade e o fortalecimento do movimento docente; terceiro, por entender que esta equipe terá autonomia política nos encaminhamentos pertinentes às causas dos docentes.
Estou com a Chapa dos Professores e Professoras
Recife, 18 de janeiro de 2010
Prof. João Berchmans de Carvalho Sobrinho

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Natureza como um dom exemplar de Deus

Acordo cedo num domingo carregado com nuvens cor de chumbo. O aguaceiro anuncia-se. Lembro-me da minha bananeira nanica prenhe de frutos prestes a cair. Tenho que ser rápido e salvá-la da forte cortina d'água que se avizinha. Tudo é pleno quando a natureza manifesta-se. Êxtase de sons, cores e odores...E sempre nos remete à memória de imagens acasaladas que desabrocham como se quiséssemos reviver o já vivido. O saltitar da garrinchinha na varanda da rede ou o recrocitar das galinhas d'angola na mata-pasto ao lado.
Assim como a natureza, nosso corpo também necessita da luz e do calor do sol, da chuva e da brisa, para nos mantermos vivos.
Mas não é só o corpo físico que necessita de cuidados para que prossiga firme. O espírito igualmente precisa da luz divina para manter acesa a chama da esperança. Precisa do calor do afeto, da brisa da amizade, da chuva de bênçãos que vem do alto.
Todavia, é necessário que nos esforcemos para mantermos a fé acima das circunstâncias desagradáveis que nos envolve no cotidiano.
Muitos de nós questionamos quando aparecem as dificuldades, e às vezes nos deixamos levar pelo espírito da descrença que abafa a nossa vontade de buscar a luz, e definhamos dia-a-dia como uma planta mirrada e sem vida.
É preciso que compreendamos e aceitemos os objetivos traçados por Deus para nós.
E para que possamos crescer de acordo com os planos divinos, o Criador coloca à nossa disposição tudo o que necessitamos.
É o amparo da família que nos oferece sustentação e segurança em todas as horas.
É a nossa comunidade religiosa que nos fortalece nos momentos difíceis.
Por essa razão, devemos entender que Deus tem um plano de felicidade para cada um de nós e que, para alcançá-lo, é preciso que busquemos os recursos disponíveis.
É preciso que saibamos aprender com a natureza, este dom que Deus nos deu. Que busquemos sempre a luz, mesmo que as trevas insistam em nos envolver.
É preciso, acima de tudo, buscar o apoio de Deus que é quem realmente nos consola e esclarece, ampara e anima em todas as situações.
Quando as dificuldades e os problemas se fizerem insuportáveis, tentando sufocar-nos a disposição para a luta, lembra-te Dele e busca a luz divina através da oração sincera.
Amém